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Conheça o fantástico projeto Brasil 27


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Tive a oportunidade de entrevistar o jovem goianio Fábio Serconek, um dos idealizadores do Projeto Brasil 27 que buscou conhecer o Brasil por meio dos seus negócios sociais e, para isso, visitou todos os 27 estados acumulando muitas histórias, aprendizado e experiência.

Fabio já esteve com ser parceiro, Pedro, no TEDx para falar do Brasil 27 e agora nos brinda com esta excelente entrevista.

Aproveite!

1. Fábio, em linhas gerais, como você explicaria o Projeto Brasil 27?

O Projeto foi idealizado por mim e pelo Pedro Henrique quando estávamos fazendo nosso mestrado fora do Brasil (o meu em Gestão Inovação e o dele em Sustentabilidade) e conversávamos sobre nossas teses.

Dentro das conversas, víamos muitas coisas que poderiam ser usadas no âmbito específico brasileiro e descobrimos que não havia quase nada na literatura nacional sobre empreendedorismo social e casos de negócios sociais. Nos perguntamos: como os empreendedores sociais brasileiros estão atuando em seus negócios sociais? O que ocorre com os do Sul? O que ocorre com os do Norte?

Daí surgiu a nossa proposta: já que não havia nada falando sobre os negócios sociais do Brasil, vamos criar. Vamos passar em todos os 27 estados e tentar compreender os motivos de sucesso e as características dos negócios sociais de cada um dos ecossistemas empreendedores brasileiros. Como se manifestam? Em que se assemelham? Quais são as suas lições? Que caminhos traçaram?

Portanto abordamos a vida dos empreendedores, claro, mas focamos no negócio social em si, de forma que isso sirva como base para o ensino em sala de aula e também para pessoas que quiserem empreender.

2. E a partir de toda a experiência acumulada com o projeto vocês conseguiram identificar algum padrão no comportamento desses empreendedores sociais ou até competências comuns a todos eles?

Algo que serve não só para o empreendedorismo social, mas para o empreendedorismo como um todo: a paixão por aquilo que se faz era comum a todos eles.

O universo do empreendedorismo social é muito diversificado. Por um lado encontramos pessoas super cultas e com educação formal e por outro conhecemos empreendedores que mal sabiam escrever. Independentemente disso, empreendendo socialmente e sabendo como “tocar” em sua comunidade.

Em nossa pesquisa também abordamos cooperativas e associações que, apesar de não representarem exatamente o que é o empreendedorismo social, é um modelo de atuação social muito encontrado no Brasil, e graças a isso conseguimos identificar que existe uma tendência maior para a prática do empreendedorismo social clássico no Sul e Sudeste e do associativismo e cooperativismo no Norte e Nordeste do Brasil.

Voltando a falar sobre a paixão por aquilo que se faz, isso é realmente fundamental. Primeiro porque o Brasil é um ambiente que dificulta a ação empreendedora, então buscar só o dinheiro não será um combustível completo para sua atuação. Mas também não pode exagerar. As visões de curto e longo prazo às vezes são conflitantes. Por exemplo, você pode querer mudar a educação no longo prazo, mas no curto prazo você precisa pagar as contas do negócio. Se você for muito para o lado social, que às vezes é o extremo da paixão, você não terá chance de sobreviver no longo prazo para causar essa mudança. Então deve haver a busca também pelo financeiro para permitir a transformação no futuro.

3. E de todos os negócios sociais brasileiros que você conheceu, qual o que mais te marcou?

Todos me marcaram, mas naturalmente há aqueles que nos tocam mais.

Houve um relacionado ao cooperativismo e outros dois eram negócios sociais. Esses dois que mais me chamaram a atenção foram os que deram mais resultado até agora.

O primeiro é o Terra Nova, de Curitiba, que trabalha com regularização fundiária. Eu nunca imaginei que um advogado pudesse atuar com negócio social. Eu não enxergava isso. E ele quebrou um paradigma meu. Ele causa uma transformação muito profunda porque mexe no capital das pessoas (ele dá acesso ao capital a essas pessoas). Elas moram em um lugar e não tem praticamente nada. Aí ele utiliza seu negócio, intervindo junto a prefeitura, aos moradores e proprietários para poder regularizar onde aquelas pessoas moram. O resultado é que os habitantes passam a ter não só infraestrutura (asfalto, energia elétrica, água potável etc.) - e consequentemente uma vida mais segura e saudável -, mas também um papel que lhe dá propriedade sobre o local em que moram. Um local que antes, de forma irregular, por exemplo, valia R$ 5.000,00 passa a valer R$ 60.000,00 depois da regularização. Isso nas mãos de um cidadão dá acesso a crédito bancário para empreender. Então o negócio fundiário atua não só na questão habitacional do cidadão, mas também lhe dá acesso a capital para que possa empreender, se inserir no mercado profissional e se tornar independente financeiramente. Fantástico. É transformador! Ele foi um dos que conseguiu fazer uma transformação tanto ampla quanto profunda na vida das pessoas.

O outro é o do Banco Palmas, que já é muito famoso, lá de Fortaleza. Eles criaram um banco de desenvolvimento comunitário. O Joaquim, que capitaneou essa mudança, é um cara fantástico, que tem uma história de vida interessante. Ele mostrou que tentar desenvolver uma comunidade só dando dinheiro é igual tentar encher um balde de água furado e que o ideal e mexer na economia da comunidade para que as pessoas se autodesenvolvam (e consequentemente passem a ter orgulho de si e da própria comunidade) e se tornem independentes.

Por fim, o caso que me marcou relacionado ao cooperativismo foi mais pela história pessoal da Raimundinha de Teresina, no Piauí. Ela me tocou pessoalmente. Uma história de vida complicada, pois vivia em uma região muito machista em que as mulheres ficavam trancadas em casa e não podiam ter uma vida humana plena. Quando as mulheres começaram a trazer uma renda para suas residências, conseguiram desenvolver uma relação mais igualitária. É um modelo tradicional de cooperativa, mas essa história foi a que mais me tocou. Você precisa ver o tanto que ela está feliz com tudo aquilo que ela faz.

4. No Brasil o empreendedor encontra um dos ambientes mais complicados do mundo. Se o empreendedor brasileiro é um herói, o empreendedor social brasileiro é um herói ao quadrado (ou um super herói, o Fábio completou).

Você consegue identificar as principais barreiras que eles enfrentam para implantar, manter e ampliar um negócio social? E também há alguma forma de superar isso?

Isso irá variar de mercado para mercado e de empresa para empresa. Não há uma regra geral. Não há uma barreira geral. Há uma barreira específica para cada perfil de empreendedor, para cada mercado, para cada realidade comunitária. Mas as barreiras existem e o preparo para superá-las também deve existir.

5. E quais são os planos do Brasil 27 para este ano de 2015?

Bom, a gente já realizou todas as visitas. Publicamos vídeos (que possuem fácil compreensão), publicamos artigos em 2013 na Folha de São Paulo e agora estamos escrevendo estudos de caso - que são peças mais aprofundadas que irão explicar o funcionamento, as barreiras, o surgimento, o nível de inovação, o nível de transformação e impacto social etc. - e daqui há uns dois meses lançaremos um e-book, com todos eles, gratuito. Queremos incentivar que isso seja usado em sala de aula.

Cabe ressaltar que como fazemos em parceria com a USP desde o começo, temos o cuidado de direcionar nosso trabalho para que seja utilizado em sala de aula.

6. Buscando um grande rigor científico?

Ficamos no meio termo: nem excessivamente acadêmico e nem pueril. Queremos o suficiente para dar a profundidade adequada e que seja usado como material em sala de aula, mas sem rigor acadêmico excessivo.

7. Para finalizar, Fábio, gostaria que você - a partir da experiência acumulada com o projeto - mandasse uma mensagem final para aqueles que estão criando, ou planejamento criar, um negócio social.

Como eu ainda não sou um empreendedor social (o Brasil 27 foi um projeto e não uma empresa) eu vou usar das palavras das pessoas que eu entrevistei.

Para todos os empreendedores sociais que eu entrevistei eu repetia uma pergunta: o que você faria de diferente? E mais de 80% deles responderam: Eu tive muito medo de começar e a única coisa que eu faria de diferente era começar antes. Eu começaria antes.

Independentemente das dificuldades que eles enfrentaram, eles falam que começariam antes!

Isso compreende muita coisa e cada um, na sua cabeça, irá entender.

8. Fábio, parabéns, sensacional a iniciativa de vocês! Você e todos esses empreendedores sociais representam o Brasil que dá certo!

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