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Gabriel Cardoso

O poder da doação


Nós que atuamos na área social sabemos bem qual é a importância das doações. Mas, antes de prosseguir, gostaria de contextualizar o sentido que desejo dar neste artigo às palavras “social” e “doação”. Utilizo o termo social para denominar a diversidade de causas de interesse comunitário, entre elas, a educação, a saúde, a cultura, a segurança, o esporte, entre outros. E a palavra doação para denominar o repasse de recursos para as causas de interesse público incluindo o investimento social individual e o corporativo.

A doação é um componente crítico no contexto social, pois ela possibilita os investimentos em prol do avanço do bem-estar e do desenvolvimento do nosso país. Por esta razão, respeitando as possibilidades financeiras, o ato de doar deveria ser frequente e continuo privilegiando a diversidade de causas, de organizações e de formatos.

doações

Costumo dizer que se as organizações sociais brasileiras, de repente, decidissem cruzar os braços, interrompendo a sua atuação, certamente, teríamos uma crise social instalada em nosso país. Imagine os programas de recuperação de dependentes químicos, as organizações de contra turno escolar, hospitais filantrópicos, de conservação ambiental, as creches, os programas de formação profissional, organizações que atendem crianças com deficiência, entidades especializadas no atendimento a pessoas com doenças e síndromes, albergues, entre tantas outras, deixando de atuar. Além das organizações que não realizam atendimento direto, mas, que são igualmente importantes, por exemplo, aquelas que atuam em favor da transparência dos governos, do fomento da democracia, em prol da qualidade da educação, em pesquisas, da qualificação do terceiro setor e do empreendedorismo.

Grande parte dessas organizações, as quais prestam um serviço essencial a nossa comunidade, dependem diariamente de doações de pessoas físicas, de institutos e fundações ou de empresas. Elas começam o mês planejando uma variedade de ações para conseguir equilibrar suas finanças, a fim de poder continuar cumprindo com sua missão institucional. Realmente, não é nada fácil! Sem dúvida, teriam preocupações de sobra para desistir.

Por isso, é preciso que as doações aumentem em nosso país permitindo as organizações ampliarem a capacidade de atendimento, a qualificação dos seus profissionais, realizar mais investimento em ações preventivas, a atuar em prol da formulação e monitoramento de políticas públicas, entre outros.

Dias atrás, fiquei bastante surpresa com o resultado da pesquisa Doação Brasil publicada pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento Social, a qual, de forma inédita, identificou os hábitos e os pensamentos dos brasileiros sobre doação. Em 2015, as doações individuais dos brasileiros chegaram a impressionante cifra de R $13,7 bilhões, o que corresponde a 0,23% do PIB brasileiro. Ela revela que 30% dos doadores o fazem de forma recorrente e destinam o valor médio mensal de R$ 20 a R$ 40. 71% das doações são realizadas para organizações desvinculadas de igrejas. E 87% dos doadores acreditam que a doação deve ocorrer de forma desinteressada, sem esperar nada em troca e sem divulgá-la. Outro dado interessante é quanto ao perfil: o doador clássico brasileiro é do sexo feminino, acima de 40 anos, mora na região norte, nordeste ou centro norte, tem instrução superior e é religioso.

No entanto, vejam como ainda existe espaço para melhorar esse cenário: 64% não doam para mais do que uma organização. 80% não utiliza notas fiscais para ajudar uma organização. 49% não sabe como destinar seu imposto de renda e 58% afirma que doaria mais se houvesse mais incentivos fiscais.

Sobre os fatores determinantes para as doações em dinheiro estão a solidariedade e a sensibilidade para as causas sociais. É possível perceber que a maior motivação está centrada no “eu”, como: “apoio porque me faz bem”. Seguida da compreensão do seu papel cidadão “porque acredito que precisamos participar da solução dos problemas sociais”.

O desconhecimento sobre o papel e a atuação das Ong´s chama a atenção, pois 29% discorda ou tem opinião neutra sobre o fato de que as ONG´s dependem de doações de pessoas e de empresas para poder funcionar. E, 43 % discorda ou tem opinião neutra sobre o fato das Ongs serem necessárias para ajudar a resolver problemas sociais e ambientais.

terceiro setor

Quanto ao valor das doações realizadas por empresas, institutos e fundações, segundo o senso GIFE de 2015, chegou a R$ 3 bilhões, um valor comparado ao orçamento do Ministério da Cultura. Apenas como comparação, há 10 anos, o mesmo senso identificou que a doação alcançou o valor de R$ 737 milhões.

Esses dados demonstram que o hábito de doar tanto das pessoas físicas quanto das jurídicas indica maior compreensão sobre a importância das causas sociais, das organizações que atuam nesse campo, além da compreensão sobre a limitação da capacidade de atuação do Estado.

Nesse sentido, em Curitiba, em agosto de 2015, os investidores sociais privados decidiram criar uma rede de apoio continuado. O que motiva os representantes de empresas, de famílias, de institutos e de fundações a participar das reuniões bimestrais da RIS – Rede de Investidores Sociais de Curitiba e Região é poder trocar experiências, atuar de forma conjunta e advogar em temas críticos para o setor, a fim de ampliar a qualidade dos investimentos sociais para a sociedade. Ao todo, atualmente, 37 organizações compõem a rede.

Nós que atuamos no terceiro setor compreendemos bem a diferença que fazemos a partir dos recursos que dispomos. Mas sabemos também quais são as nossas limitações e nossas necessidades para superá-las. Unir esforços, solidarizar aprendizados, tomar decisões baseadas em análises contundentes da realidade e otimizar a aplicação dos recursos são só alguns dos exemplos de uma agenda a ser ainda melhor explorada.

No entanto, é inquestionável que para o desenvolvimento do nosso país e para o bem-estar da população é necessário que as organizações sociais também ampliem e melhorem os serviços prestados. Mas, para isso, a disponibilidade de recursos é essencial.

Então, compartilhe conosco a sua opinião. O que motivaria você a doar mais ou para mais de uma organização?

 

Escrito por Eliziane Gorniak, diretora Executiva do Instituto Positivo e membro fundadora e uma das atuais coordenadoras da Rede de Investidores Sociais Privados de Curitiba - RIS [Uma colaboração do Instituo Legado].

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