Em qualquer campo profissional, e não somente no empreendedorismo social, muito se insiste no valor da perseverança. Perseverar diante de adversidades, dizem especialistas, é característica indispensável aos profissionais bem-sucedidos, enquanto que ser teimoso não é.
E assim percebemos que uma grande dificuldade que muitos profissionais têm não é perseverar, e sim diferenciar aquilo que se vê como perseverança de um quadro agudo de teimosia.
Em primeiro lugar, para distinguir perseverança de teimosia é necessário um rol de competências que conduza as ações, omissões e decisões de empreendedores sociais aos melhores resultados possíveis. Competências balizam o desempenho de bons profissionais. Falamos sobre elas no livro e em outras postagens.
Além de competências, é fundamental se atentar a um viés psicológico – e traiçoeiro – que acomete a profissionais de todas as áreas – principalmente os empreendedores sociais: a escalada de comprometimento, um terrível mecanismo que leva alguém a continuar investindo recurso, energia e tempo em um projeto, mesmo com todas as evidências objetivas sugerindo o contrário. É teimosia, não é perseverança!
Um exemplo hipotético seria de Dilmo, um empreendedor que após sucessivos períodos de prejuízo em seu negócio social, não gerando impacto algum, insiste no modelo anteriormente planejado, somando ainda mais investimentos de dinheiro, tempo e outros recursos. Dilmo, ao invés de perseverante, seria teimoso e foi acometido pela escalada de comprometimento.
Dilmo deveria reavaliar seu projeto e pensar na melhor forma de abandoná-lo ou reformatá-lo em oposição a insistir num modelo que já sinalizou e apontou pelo insucesso.
E quais são as causas da escalada de comprometimento?
Falácia de custo irrecuperável: Ocorre quando, ao estimar o valor de um investimento no futuro, sentimos dificuldade em ignorar o investimento que já foi feito no passado. Tal falácia leva o empreendedor a investir ainda mais no afã de recuperar uma pequena parcela daquilo que foi investido até então.
Antecipação do arrependimento: O empreendedor continua investindo com medo de se lamentar no futuro por não ter feito mais uma tentativa no negócio (de não ter sido “perseverante”).
Viés da conclusão: O empreendedor acometido por esse viés acredita que uma nova onda de investimentos fará com que seu objetivo seja enfim alcançado.
Ameaça ao ego: O empreendedor prefere continuar investindo, porque acredita que se o investimento for interrompido, atestará a si próprio e aos demais que tomou decisões equivocadas e por isso não foi bem-sucedido.
Tendência à confirmação: Insistir no investimento é uma forma de o empreendedor confirmar que as decisões que tomou até o presente momento não foram equivocadas.
É importante observar que a escalada de comprometimento também pode ocorrer na forma grupal (está aqui uma das possíveis explicações para grandes prejuízos em organizações com amplas equipes), sendo mais extrema em tais casos. Nessas condições, o pensamento de grupo reforça a decisão original, impedindo uma possível via alternativa e geralmente nasce quando o desejo de evitar conflito dentro do grupo faz com que seus membros sejam complacentes demais.
Como você pode evitar a escalada do comprometimento?
Buscar ativamente dados e informações objetivas sobre desempenho de seu negócio social e utilizá-lo para embasar as próprias decisões.
Ter ao lado agentes externos (conselheiros, tutores, docentes, consultores, especialistas etc.) que possam eliminar o viés por não estarem envolvidos psicologicamente com o negócio social.
Compreender, desde a concepção do negócio social, que não concluir, abandonar, redirecionar ou reposicionar é uma possibilidade natural ao empreendedor social.
Utilizar a técnica dos Seis Chapéus do Pensamento na tomada de decisões de investimento.
Ter o propósito do negócio bem como os princípios de gestão claros, fundamentados e explícitos.
Desconsiderar investimentos inicias no momento de tomar decisões quanto a novos investimentos
Confesso que já fui acometido “algumas muitas” vezes pela escalada do comprometimento. E você?
Fraternal abraço,
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