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Inspire-se com negócios sociais brasileiros 4 [Hand Talk]


Quando estou palestrando sobre negócios sociais para um público principiante, invariavelmente sou questionado se existe algum negócio social no Brasil. Respondo, também invariavelmente, que existem vários e cito como exemplo o Hand Talk como um dos que mais admiro.

Premiada internacionalmente, a empresa realiza tradução digital e automática para Língua de Sinais, utilizada pela comunidade surda. A solução oferece ferramentas complementares ao trabalho do intérprete para auxiliar a comunicação entre surdos e ouvintes.

Sobre o Hand Talk -- e dando continuidade a série Inpire-se com Negócios Sociais Brasileiros -- Carlos Wanderlan, um de seus sócios, nos brinda com este excelente bate-papo.

Aproveite!

Carlos, antes de mais nada, nos conte quem é o famoso Hugo.

Grande Gabriel. O Hugo é o interprete virtual da Hand Talk que foi criado com o foco específico para a Libras (Língua Brasileira de Sinais). Ele tem mãos grandes para facilitar a visualização dos sinais, assim como um rosto com expressões faciais bem definidas e evidentes.

E como surgiu o Hand Talk? Quem está à frente do negócio social?

A idéia da Hand Talk surgiu ainda em faculdade há mais ou menos 07 anos com o meu sócio Ronaldo, quando ele cursava Publicidade e Propaganda, em um trabalho de disciplina. Após esse episódio a ideia ficou guardada, até que em 2012 eu fui para Belo Horizonte fazer um curso para desenvolvimento de aplicações móveis.

Como eu já trabalhava como parceiro em alguns projetos de clientes na agência do Ronaldo, o questionei sobre projetos dos clientes que pudéssemos trabalhar para por em prática o que havia aprendido. Foi quanto ele resgatou essa ideia do período de faculdade e começamos a trabalhar nela.

Alguns dias depois cheguei à agencia com o protótipo bem avançado. Nesse momento precisávamos de alguém que fosse bom com personagens 3D, foi quando conhecemos o Thadeu, o terceiro co-fundador da Hand Talk, por intermédio de um amigo em comum que eu tinha.

Eu, Carlos Wanderlan, sou Analista de Sistemas, o Ronaldo Tenório é formado em Publicidade e o Thadeu é arquiteto de formação, com especialização em modelagem 3D e animação de personagem.

O problema que o Hand Talk busca solucionar é maior do que o senso comum imagina e a própria solução é muito inovadora. Isso rendeu muitos prêmios a vocês. Quantos e quais foram até agora?

02 meses após termos iniciado o desenvolvimento do protótipo, em agosto de 2012, surgiu a possibilidade de inscrevermos a ideia em um evento chamado DEMODAY ALAGOAS, que reunia projetos de startups locais aqui do estado. Até então não sabíamos nada desse mundo de startups! Rs Fomos escolhidos como a melhor startup do estado. No mês seguinte, setembro, participamos do Salão da Inovação na Rio Info 2012, um dos maiores eventos de TI do país, onde fomos eleitos como o projeto mais inovador do Brasil naquele ano.

Em 2012 ainda submetemos o projeto para o WSA Mobile, um evento apoiado pela ONU, e dentre mais de 15.0000 aplicativos inscritos fomos selecionados para representar o Brasil na final do evento. Este evento aconteceu em Fevereiro de 2013 em Abu Dhabi, foram 40 projetos em 8 categorias. E o app Hand Talk foi escolhido como o melhor aplicativo social do mundo. Isso nos abriu diversas portas e gerou diversos destaques na mídia.

Em 2014 fomos escolhidos entre as 15 startups mais inovadoras da América Latina pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e fomos apresentar a Hand Talk e o Hugo em Washington D.C. Participamos também do QPrize, uma competição de investimento da Qualcomm Ventures. E ganhamos a etapa do QPrize LATAM (América Latina). Recentemente, no final de 2014, fomos escolhidos “Empreendedores Sociais de Futuro” pela Folha de São Paulo. Uma outra grande conquista que nos colocou dentro de uma das maiores redes de empreendedores sociais do país e tem sido muito importante para o nosso processo.

Como empreendedores sociais, quais são os principais obstáculos que vocês precisaram – ou ainda precisam – superar?

A falta de conhecimento das empresas e do poder público a respeito da problemática da surdez no país. Não de maneira intencional, mas essa falta de conhecimento só agrava a situação. Nós temos um trabalho paralelo de conscientização dos empresários e do poder público. Afinal, são quase 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva e surdez severa.

Cerca de 70% dos surdos têm dificuldade em ler e escrever a língua escrita de seu país, pois a experiência de comunicação dessas pessoas é extremamente visual, dessa forma a maioria das pessoas surdas depende exclusivamente da Língua de Sinais para se comunicar e obter acesso a informação.

Acredito que está seja a maior barreira que nós e toda comunidade surda enfrenta.

Lembrando que a Libras é a 2º língua oficial do Brasil desde 2002. E existe a Lei de Acessibilidade desde 2004.

Mais o cenário tem mudado positivamente, aos poucos. Não podemos parar.

Como você vê a Hand Talk em 10 anos?

A Libras é a língua oficial no Brasil, porém são mais de 200 línguas de sinais no mundo inteiro, por exemplo, nos EUA a língua é a ASL (American Sign Language). O problema da surdez é inerente a questão econômica dos países, estudos mostram que proporcionalmente a quantidade de surdos nos outros países são bem próximas da do Brasil. Ou seja, independe de ser um país desenvolvido ou não. Daqui a 10 anos, queremos que a Hand Talk já esteja funcionando em pelo menos mais 5 línguas de sinais no mundo e que o impacto positivo que estamos realizando na vida dos surdos brasileiros se estenda aos outros países.

E sobre empreendedorismo social, qual a importância dele para um país como o nosso?

Costumo falar que não se pode criar soluções onde não há problemas. E não conheço, atualmente, um país com tanto problema social como o nosso, infelizmente.

Porém, onde muita gente vê esses grandes problemas e apenas criticam as atitudes do poder público, outros visam oportunidades. E aqui não estou falando de “oportunismo” de forma negativa. Mas uma real possibilidade de mudar a vida das pessoas para melhor, e por meio de um negócio sustentável.

Diversos empreendedores têm criado soluções para esses problemas sociais, desde educação, moradia, saúde, saneamento. Enfim, somos um celeiro de oportunidades de fazer a diferença na vida das pessoas.

E diferente de uma ONG, o negócio social gera receita para o desenvolvimento da própria empresa, para que ele reinvista e alcance o maior impacto possível em um intervalo de tempo curto.

É como uma das frases que escutei quando participamos da aceleração da Artemísia, e que carrego comigo sempre: “Entre ganhar dinheiro e fazer a diferença, escolhemos ficar com os dois.”

Sobre você e seus sócios, qual a principal recompensa e qual é o principal desafio em ser empreendedor social?

Como todo empreendedor social, o que buscamos e o que “contabilizamos” mensalmente são os números positivos do impacto que estamos realizando com a nossa solução. Nas nossas métricas, o peso maior, com certeza é o quanto estamos mudando a vida dessas pessoas, e onde podemos melhorar para ampliar isso. Os feedbacks e histórias que recebemos dos usuários e clientes são “as moedas” mais importante para nós. Costumamos compartilhar a todo momento isso com o nosso time. Nós temos um grande quadro na sala de desenvolvimento do projeto, onde estão a grande maioria da equipe, e sempre que uma nova história ou feedback chega, nós colamos lá. Para que cada um do time possa visualizar que aquele trabalho, que estão realizando diariamente e com tanta dedicação, está impactando milhares de pessoas.

Que recado você deixaria para os empreendedores sociais que estão começando -- ou pretende começar -- sua jornada?

Empreender no Brasil não é fácil, disso todos nós já sabemos. E o empreendedorismo social é ainda mais difícil, porém a jornada é extremamente satisfatória. Não desistam de querer mudar a sua comunidade, a sua cidade, estado ou país. Precisamos de todo o contingente disponível de pessoas que pensam assim. E aqui usarei o titulo de um livro (rsrs), o qual me conquistou bastante, e sintetiza o meu desejo para vocês: “Mude, você, o mundo!”

Muita gente que critica o governo e os políticos são ativistas frequentes nas redes sociais. Mas poucos realmente saem do ativismo virtual e resolvem fazer a sua parte, dar a sua contribuição para tornar a nossa sociedade melhor.

As oportunidades muitas vezes estão disfarçadas e precisamos pegá-las. Isso poderá mudar a sua vida, se tornar um empreendedor social, e consequentemente mudar a vida de muita gente que está esperando por vocês.

Obrigado, Carlos, pela entrevista! Que você, seus sócios e equipe continuem mudando o mundo para melhor!

Gostou da entrevista? Assista a este curto vídeo que conta um pouco mais sobre o problema da surdez no Brasil e a solução proposta pela Hand Talk.

O Hand Talk é um dos negócios sociais citados em meu livro. Se você ainda não o conhece, clique AQUI para ler o primeiro capítulo gratuitamente.

Leia também outros textos da série Inspire-se com Negócios Sociais Brasileiros:

Gabriel Cardoso

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